sábado, 7 de abril de 2012

Dj Ditinho Uma História Real


Durante a década de 30 o mundo da época vivia uma crise muito grande em quase todos os setores da vida.
No Brasil não era diferente , como o Governo do Getúlio Vargas não estava acrescentando muita coisa no país em dificuldades, alguns estados da federação resolveram fazer sua própria revolução . O Estado de São Paulo acabou ficando sosinho na sua luta pra dias melhores de seu povo e outros também.
Minha história começa nesse tempo na cidade de Amparo SP .



A Descendência


Na década de 30 a família de meu bisavô Quirino moravam e trabalhavam na região de Duas Pontes, Pádua Sales, Jaborandi, etc... na cidade de Amparo. Seu cunhado ,Emiliano Cunha , irmão de minha bisavó Filomena trabalhava num cortume da região. Como o Emiliano tinha se casado sua mulher ficava em casa cuidando de seus 4 filhos pequenos . Mas ele era muito direito e gostava das coisas certas , então sempre dizia a seus amigos que era errado trabalhar até anoitecer , ou então receber o que o patrão quisesse pagar . E então o governo precisava fazer algumas leis que beneficiasse os trabalhadores senão ninguém agüentaria, já que os escravos tinham sido libertados a pouco mais de 40 anos e em muitos lugares do Brasil a escravatura continuava afetando toda pessoa pobre e sem recursos que eram massacrados sem piedade.
Essa idéia custou muito caro ao meu tio bisavô , porque seu patrão o despediu sem direito a nada , mesmo porque ninguém tinha direito algum mesmo. Pediu a casa que morava com sua família , cortou a cooperativa e também o crédito pra comprar comida.
Então ficou sem serviço , sem casa ,sem lugar onde comprar alimentos com 4 crianças pequenas e sua mulher grávida do quinto filho . E ainda pra piorar explodia nessa época a revolução de 32 . Ele ficou então com problemas mentais , seu sogro levou a filha e as quatro crianças pra sua casa , ajudando assim a cuidar dos pequenos inocentes.
O Emiliano por sua vez sem ter como se virar foi morar com sua irmã Filomena minha bisavó, quase que totalmente insano e com muitos problemas psicológicos.
O Quirino e a Filomena eram pais de muitos filhos, Sebastião , meu avô , Francisco , Alcindo , José , Malvina , Maria,Benedita e Antenor.
Quando meu tio Francisco servia o exército , ficou um tempo sem dar notícias , seu pai foi saber o que teria acontecido com o filho , e chegando lá disseram que o Francisco havia pegado pneumonia e estava hospitalizado. Minha bisavó pode então rever o filho alguns meses depois , quando teve alta do hospital e voltou pra casa . Mas ela ficou muito invocada com o fato de o filho estar servindo o país , e ninguém se interessar em dar notícias aos pais quando adoeceu , mas acabou terminando bem.
Quando seu outro filho Antenor estava no exército , estourou então a revolução de 32. Nossa região foi invadida por forças nacionais , já que no meio da guerra “largaram” o Estado de São Paulo contra o resto do país . No quintal da casa onde eles moravam ficavam então os militares procurando prendendo e matando os resistentes e bravos paulistas. Ela por sua vez com o irmão já em estado de insanidade quase que total. Com o filho defendendo uma causa considerada perdida , pegava então seus quadros de santo que possuía e saía benzendo os soldados ,perguntando se não tinham visto seu filho Antenor, ao que respondiam que talvez já estivesse morto pois ele brigava por uma coisa impossível. Claro que minha bisavó nunca mais foi a mesma , ficando também com problemas mentais devido a revolução constitucionalista do Estado de São Paulo no Brasil na década de 30.
Passado alguns meses depois que terminou a guerra , aparece um dia no portão da casa do meu bisavô Quirino, um homem todo rasgado e sujo com as barbas e cabelos grandes , eles não o reconheceram , mas era seu filho Antenor , meu tio Antenor que tinha voltado do além , já que todos achavam que tinha morrido , pois não se entregava de jeito nenhum.
Contou então que viu muitos amigos serem mortos ao seu lado nos combates que travavam em nossa região e também via muita gente se rendendo ao inimigo.Mas ele e alguns amigos não se entregariam nunca. Ficaram então em trincheiras em um morro famoso na nossa cidade , ainda resistindo pois ficariam fora do alvo dos adversários devido ao mato ou catingueiro muito espesso que existia na encosta. Os soldados das forças contrárias exigiam que todos se rendessem , diziam que não aconteceria nada e que a revolução estava controlada e o Exército Nacional já tinha ganhado a guerra contra os paulistas . Muitos de seus amigos saíram das trincheiras e se entregaram. Mas ele e alguns amigos ficaram protegidos pelo matagal. Ao saber que nem todos haviam saído do mato os militares atearam fogo no mato , queimando assim as vidas de quem não se entregou. Provavelmente segundo meu tio muitos de seus amigos morreram queimados, mas ele conseguiu com pedras e algumas ferramentas improvisadas na hora do desespero, cavar um pequeno buraco e se proteger do fogo que queimava o morro todo e apesar do calor conseguiu se manter vivo até o fogo se apagar , sem dar o gostinho das forças nacionais o prenderem.
Sua família pedia então pra se apresentar de novo ao Exército , porque ele era um sobrevivente da guerra que haviam dado como morto. Mas ele era muito teimoso e radical , dizia que todos tinham traído sua causa , e muitos amigos pagaram caro com a própria vida metralhados ou queimados , e se ele aparecesse por lá como não concordava com a situação certamente seria morto.
Passou então o resto de sua vida trabalhando em fazendas cuidando de cavalos e também na agricultura,na penumbra da história do Brasil.
Obs: A cidade de Pedreira foi a última resistência as forças militares que combateram o povo paulista na revolução de 1932.


Meu tio Antenor

Pra entender a história que quero contar, preciso explicar como funcionavam as coisas nos anos 30.
Quando o governador do Rio Grande do Sul na época Getúlio Vargas, ex-ministro da fazenda do presidente Washington Luís, saiu como candidato da oposição tendo como vice o paraibano João Pessoa.
Eles perderam as eleições pra máquina do governo.Mas quando foi assassinado em seu estado natal o candidato a vice de Getúlio, culparam então o presidente, pois o assassino era um político ligado a Washington Luís. No dia 3 de outubro de 1930 estourou então a revolução em Porto Alegre . Em dois dias Getúlio dominou todo estado e em seguida marchou em direção a capital federal. O estado de São Paulo tentou em vão resistir mas não agüentou. E em novembro de 1930, Getúlio Vargas chegava então a presidência do Brasil “na marra”, como governo “provisório” e líder civil da revolução.
No ano de 1932 meu tio servia o exército na cidade de Caçapava interior de São Paulo mesmo morando na região de Amparo SP. As coisas se complicavam a todos países, porque na verdade viviam uma crise mundial . E no Brasil não era diferente diante das pressões principalmente do estado de São Paulo , explodia em 9 de julho de 1932 a Revolução Constitucionalista sob chefia do general Isidoro Dias Lopes. Os paulistas não conseguiram o apoio prometido dos gaúchos e mineiros e as forças nacionais impediram qualquer ajuda externa ,então militarmente foram derrotados. Mas as suas reivindicações foram aceitas e algumas o povo faz uso delas até hoje.
Meu tio e muitos compatriotas da época serviam o exército nacional,mas eram comandados e tinham que obedecer as ordens dos paulistas. Mas muitos deles que defendiam o povo brasileiro, e eram de São Paulo, depois que a guerra foi perdida ficaram mais perdidos ainda pois eram perseguidos e executados pelos soldados de outros estados do Brasil , que sitiavam São Paulo.
Meu tio e seus amigos leais então depois de lutarem até o fim de suas forças,acabaram sendo dado como mortos,mas na verdade quando incendiaram o matagal em que se defendiam dos ataques de militares nacionais,muitos deles inclusive ele,saíram ilesos fisicamente da guerra, mas com muitos problemas psicológicos. E quando voltou pra casa,seu pai pedia pra se apresentar de novo ao Exército. Mas ninguém conseguiria convence-lo a se juntar com quem falsificava a própria munição que ele inocentemente usava pra defender o próprio país ou uma causa perdida na história dos anos 30 no Brasil de Getúlio Vargas!!!!

Os Filhos do Emiliano

Quando disse em outro capítulo que meu tio-bisavô Emiliano Cunha, enfrentou muitos problemas na década de 30. Dizia também que era pai de quatro crianças e ao ser despedido sem direito a nada do local em que trabalhava,seus filhos foram criados por parentes próximos. Devido a revolução de 32 e as cicatrizes que ficaram na família, alguns deles cresceram na região de Amparo,mas logo depois mudaram-se pra São Caetano do Sul.Por outro lado outros membros da família tiveram que se virar por aqui mesmo já que nossa raiz estavam fincadas desde o começo do século 18, em lugares diferentes da região mais rica em água potável do país e segundo os bandeirantes a terra das minas de esmeraldas e diamantes do novo continente.
Um dos filhos do Emiliano que nasceu numa fazenda na própria cidade de Amparo, chamava-se e ainda chama Antonio. Nascido no mesmo dia/mês/ano que meu pai nasceu (27/07/1927) no mesmo local e na mesma hora. Porque a parteira que morava em Coqueiros (Arcadas) uma das poucas que existia na região,teve que fazer o parto de minha avó primeiro e logo depois o parto da esposa do Emiliano.
O Antonio então na sua juventude e durante grande parte da vida foi metalúrgico a região do ABC.
Nos anos 70 chegou a apoiar a nova geração de sindicalistas que se formava,inclusive lutando nas greves dos anos de ditadura militar lado a lado com um jovem que se tornaria mais tarde, um dos presidentes da república do Brasil. Com todos problemas que essa pessoa enfrentou ficando com alguns traumas de infância durante toda sua vida não se casou , ficando solteiro até hoje, onde depois de se aposentar voltou pras origens de sua terra natal. Juntamente com mais duas irmãs também solteiras que são aquelas crianças citadas no capítulo “A Descendência”, ainda hoje pela avançada idade nós tentamos de alguma forma ajudar no que for possível. Eu sempre digo que eles são um dos arquivos mais antigos vivos da história contemporânea do Brasil e a prova ou herança da Revolução Constitucionalista de 1932, que parte da população do país não sabe que eles e mais alguns paulistas pagaram caro por terem parentes servindo o exército ou vividos na época discordando das idéias do Governo Provisório, na verdade são os verdadeiros “Heróis’ hoje do país verde,amarelo,branco,azul,anil ... não reconhecidos pela história.



A Feliz Coincidência

Eu conheço tanta gente na cidade de Pedreira e região do Circuito das Águas , que um amigo sempre diz que tenho amizade com quase todo mundo da cidade. Mas boas amizades e bons amigos todos nós temos,
precisamos apenas valoriza-las e cultiva-las sempre.
Uma dessas pessoas que funcionam como ícones, lendas ou a própria referência da história de um povo, é esse ser iluminado que conheci um dia.
Quando se aposentou ele ficava sempre sentado naquele ponto de circular da Avenida Papa João XXIII na Vila Santo Antonio. Como eu fazia alguns serviços pra um dos seus filhos, sempre estava falando com ele e gostava das histórias exemplo de vida que durante sua longa jornada na terra tinha vivido e muitas delas sempre lembro.
Contava que na Revolução de 32 servia o Exército numa cidade do interior do Estado de São Paulo.
Um dia no pelotão que lutava,chegou um Padre e benzeu com Água-benta todos os soldados e disse :-
Durante essa guerra nada acontecerá com vocês, porque Deus estará ao vosso lado.
A revolução continuou e os soldados até esqueceram o fato. Enfrentaram muitas batalhas, muita gente foi atingida e morreram durante os combates terríveis que aconteceram nessa revolução.
Quando terminou a guerra juntaram então todos que haviam sobrevividos nos campos de batalha. Ficaram surpresos com a feliz coincidência. O pelotão que no começo da guerra estavam juntos, apesar de se separarem durante os combates não sofreram nenhuma baixa.
Desse dia em diante por toda sua vida nas missas e procissões em que participava, sempre na frente com a cruz símbolo do cristianismo, ele era pra gente como uma referencia da fé cristã.
E nessas poucas linhas que escrevo peço permissão a sua família e a todos que o conheceram, pra fazer essa pequena homenagem a uma pessoa que com sua história de vida, também ajudou a construir a nossa...


Os Heróis de Guerra

Durante essa revolução que conto que a minha e muitas outras famílias paulistas, foram desfaceladas pelos horrores da Revolução Constitucionalista do Estado de São Paulo nos anos 30. Não poderia de deixar de lembrar de nossos heróis paulistas e pedreirenses que tanto lutaram pra não entregar os irmãos de mão beijada ao “inimigo”. A cidade de Pedreira foi a última resistência que o Regime do Governo brasileiro enfrentou pra dominar todo país então. Mas 2 anos mais tarde (1934) esse próprio governo instituía a Constituição Brasileira baseada nos próprios ideais do derrotado povo paulista. Quero dizer foi uma guerra,como todas guerras, desnecessárias e absurdas já que quase cem por cento do que os paulistas pleiteavam, esse mesmo governo aprovou e muitas delas muita gente ainda tira proveito hoje em dia.
As histórias que meu tio contava , é que ele e seus amigos serviam o Exército Brasileiro, mas durante a Revolução o Regime do Governo entendia que os paulistas era inimigos. Então todo tipo de castigo vinha em cima dos soldados, as munições que recebiam passaram a serem falsificadas , quer dizer, o dono delas era o país, como São Paulo pleiteava “idéias”
diferentes, nossos pracinhas eram executados sumariámente com suas arma se munições com o prazo de validade vencidas. Ninguém entendia mais nada nós queríamos o bem do Brasil, mas eles queriam nos destruir , nossos próprios irmãos. E é por isso que essa revolução nunca foi muito bem explicada, mas quem estava lá vivendo o “dia dia” da guerra sempre puderam mais tarde contar toda verdade que acontecia por trás da “terrível” Revolução Constitucionalista de 1932 no Brasil.
Alguns anos mais tarde durante a segunda guerra mundial muitos pedreirenses também enfrentaram os horrores do nazismo em campanha na Itália. Foram os pracinhas da FEB, e que a cidade de Pedreira até os dias de hoje homenageia seus heróis. Eu tive o prazer de trabalhar com um deles na Cerâmica Santana, onde muitas histórias que aconteceram com ele e seus amigos, ele sempre me contava. E aqui fica também nosso registro a esses heróis pedreirenses que também lutaram na Força Expedicionária Brasileira “FEB” no ano de 1945 na Europa. O nosso muito obrigado a todos eles.

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